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LAURA TEIXEIRA

Ornamento é crime

Ago 30 — Out 30, 2024

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A produção recente de relevos, objetos, pinturas e desenhos de Laura Teixeira descende diretamente das experimentações gráficas que a artista realiza, sobretudo como ilustradora, desde o começo dos anos 2000. Essas duas extensões de trabalho têm em comum, entre outras coisas, a lida com materiais da vida prática, itens que não são necessariamente artísticos, para a construção de imagens e estruturas, em geral, com simetrias de equilíbrio instável, formas curvas e elementos que se repetem.


Por exemplo: há 10 anos, Laura concebeu o livro Bolinha branca apenas com etiquetas adesivas redondas e coloridas que, justa e sobrepostas, figuram os espaços, seres e objetos das variadas cenas da narrativa. Agora, nos trabalhos que compõem esta exposição na galeria Pilar, a artista utiliza esmalte de unha, aplique de cabelo, pérolas falsas e outros artigos de lojas de armarinho, na elaboração de trabalhos que, por sua vez, transfiguram o erótico (aludem a organismos, à botânica, à genitália humana) e criticam a relação entre beleza e perfeição.


Até certo ponto, Laura continua a “desenhar” (ou a dar formas a suas invenções) a partir de itens incomuns para essa prática. Mas, diferentemente do que ocorre, ou ocorria, com suas ilustrações, os desenhos, pinturas, relevos e objetos que ela produz em ritmo contínuo nos últimos três anos não foram pensados para acompanhar uma história, um ensaio, um artigo, nem para serem reproduzidos em papel. Essas peças agora são autônomas, estão no mundo por conta e risco próprios, a inspirar, ao mesmo tempo, certo intimismo e um tanto de aversão.

O título da exposição reporta a um texto famoso do arquiteto austríaco Adolf Loos (1870-1933), Ornamento e crime. Nesse quase manifesto, escrito em 1908, Loos relaciona a ornamentação (como a do design art noveau) a um comportamento amoral, a um retrocesso na jornada teleológica e civilizatória que estaria em curso e na direção de uma ideia de forma pura, alcançada por segmentos da arquitetura moderna. Em formulações virulentas (e negativas), o autor associa o decorativo ao erotismo, a processos de degeneração; à criança que rabisca paredes, ao papua que se tatua. Então, nesse sentido, sim: a despeito das significações ideologizadas, de superioridade e inferioridade, dos enunciados de Loos, o ornamento dos trabalhos de Laura Teixeira é crime, desvio – prazer ligado à transgressão e aos excessos.

Laura Teixeira vive e trabalha em São Paulo. Graduou-se na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, onde também concluiu o mestrado. Sua pesquisa gira em torno da linguagem do desenho vinculada a materialidades diversas e de suas relações com o espaço tridimensional. É artista orientadora no programa Igual Diferente do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Atuou em instituições como MASP, UNESP, SESC, Ateliescola Acaia, Escola da Cidade, Laboratório Emília de Formação, Oficinas Culturais do Estado e University of Hertfordshire, UK. É autora de Pássaro desenho (Mov Palavras, 2015), Bolinha branca (idem), entre outros livros. Ilustrou “Pornô Chic” de Hilda Hilst (Biblioteca Azul, 2014) e “O jarro da memória” de Claudio Galperin (Cosac Naify, 2005), além de ter colaborado com diversos jornais e revistas (Folha de São Paulo, Le Monde Diplomatique Brasil, Quatro cinco um, Cult, TPM, Crescer, TAM Kids, Pesquisa Fapesp). Exposições individuais: Objeto Cor-de-Rosa (Massapê Projetos, São Paulo, 2024); Exposições coletivas: “Beijo Vampiro” (Delirium, São Paulo, 2024), “Que Beleza” (Ateliê de Alexandre da Cunha, São Paulo, 2024).

Obras

Vistas da exposição

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