Oswaldo nasceu em São Paulo, em 1995. Entre o campo e a cidade, o corpo foi o primeiro desenho. Antes da tinta, o gesto: sete anos de bola e exílio até que o olhar voltasse a se fazer cor. Entre Europa e São Paulo, estudou formas e luz. Da arquitetura, herdou o ritmo, que se dobra em ruído e profusão por meio da tinta, que vai pro espaço e pra rua por meio do pixo e do graffitti, e retorna pra tela. Sua pintura é o que sobra quando o corpo aprende a parar. No seu ateliê da Zona Sul, as paredes respiram. Um copo, dois pastéis, uma parede vermelha e azul: o que ele aponta é sempre mais do que mostra (aqui, no caso, uma pintura nas paredes em uma loja de salgados perto dali). A cor respira junto: o ruído, o corpo, a lembrança.
Heitor dos Prazeres disse que não há nada mais sublime que a massa humana. Aqui a gente vai ler a história de uma filha que era, de um carrinho de lanche que não foi vez, de uma senhora que atravessa no mesmo momento a rua, some na esquina, e volta sempre de mãos vazias. Nada pediu pra estar aqui, nada pediu pra fazer parte dessa história, porém não tem o que fazer: aqui essa história existe. Olha pro olho dela, finge naturalidade, age como se ela sempre estivesse aqui. Dá um oi, mas não espera resposta.
Aperta os olhos… um pouco mais… nem tanto, não fecha. A letra diminui, a cor satura. Tem um nome pra imagem que nasce do embaço? Você vê um corpo ali também? Acha que ele tá fazendo a mesma coisa pra cada uma das nossas visões? Olha entre os cílios; sejamos honestos com a mancha: todas e cada uma delas, dá debaixo e do lado, aperta os olhos mas não fecha. Me dá a mão. Confia em mim. Semicerra seus olhos. Entende como aquilo se dilui. Tem três nomes que podem nascer do embaço. Pergunta comigo quais são? Não, não esquecemos do lanche nem da filha nem do corpo que atravessa a rua nem da cor nem na pessoa parada feita motivo de veladura nem do gesto — ou como ele olha pra gente —, nem dos cães nem da infância nem do sono ou da ansiedade. Respira comigo. Respira de novo.
Olha pra sua mão. Entende que a relação entre história e conto cessa na responsabilidade que cada modo tem de orientar ao fim.
Semicerra o olho. Respira. Não abre ele ainda não.
Guilherme Teixeira,
outubro, 2025
Oswaldo Ruivo (São Paulo, 1995) é artista visual. Desde a infância se dividiu entre duas paixões: desenhar e jogar futebol. Durante a adolescência, sua dedicação ao esporte o levou a viver por sete anos na Europa — passando por Grécia, Polônia e Portugal. Foi em Portugal, em 2014, que teve seus primeiros contatos com a pixação e o graffiti. Pouco depois, migrou para a pintura em tela, consolidando-a como sua principal forma de expressão. Em 2017, realizou sua primeira exposição individual na galeria A Tinturaria, em Portugal. Desde então, apresentou seu trabalho em espaços como a ALESP, a Lona Galeria e o Paço das Artes, em São Paulo.

O BOLO E A MASSA HUMANA
OWSVALDO RUIV
Out 18 — Nov 18, 2025
Texto: Guilherme Teixeira
VISTAS DA EXPOSIÇÃO









